MISTÉRIO DA MEIA-NOITE
Por Evaí Oliveira
evayoliveira@hotmail.com
PARTE 4
Poucos minutos depois, Júli chamou os chamou
para tomarem o café da manhã. Depois do café, Júli colocou um CD de músicas
selecionadas da MPB no som – a primeira a tocar foi Planeta Sonho de Milton
Nascimento – e dividiram as tarefas de casa com as meninas. Érique foi pegar
algumas mangas para fazer suco para o almoço.
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Após colocar as frutas em cima da pia, pegou a
câmera e voltou ao galinheiro para tirar fotos da porta arrancada, isso porque
só tinha fotografado a parte de dentro. Ainda com a câmera, seguiu para o lado
da casa por onde o lobisomem passou, mas só se podia ver a grama amassada.
Mesmo assim, tirou algumas fotos, para analisar melhor.
Neste momento, ele se lembrou de que o
empregado disse que a porta arranhada estava no depósito e foi até lá. A porta
estava encostada na parede de fundo. Tinha cinco riscos quase do mesmo tamanho
na parte de cima e na parte de baixo. Ao ver as marcas de possíveis garras,
achou-as estranhas e chamou Carla, que estava na cozinha.
– Ei! Carla! Venha ver isso aqui.
– Venha ver isso aqui... Por favor!
– É a porta que o empregado disse que tinha
sido arranhada...
– Nossa! Eu acho que algum espertinho está se
fazendo de lobisomem para ficar com esse sítio.
– Eu acho a mesma coisa. Mas quem estaria
fazendo isso?
– Não sei quem. Mas nós vamos descobrir.
– Olhe essas marcas na porta. Se eu imitar
garras com as minhas mãos, assim, as marcas dos polegares estariam mais
afastadas dos outros dedos. E outra coisa: as marcas dos polegares começariam
um pouco mais abaixo dos outros dedos. E essas aqui não. São todas quase do
mesmo tamanho.
– Você tem razão. Parece que essas marcas foram
feitas com alguma coisa...
– Com uma foice, talvez?
– Se tivesse usado uma foice, as marcas seriam
mais profundas e desordenadas.
– Fui lá no lado em que vimos o ser passar,
para ver se eu conseguia encontrar marcas de sapatos, mas a grama não
colaborou.
Do outro lado do depósito, estavam amontoadas
várias ferramentas. Carla, ao vê-las, chegou mais perto e pegou uma, em
especial.
– Érique, você sabe para que serve um ancinho?
– Para juntar galhos e folhas secas...
– Você conseguiria arranhar uma porta com isso?
– Dê-mo aqui...
– Dê-mo! Estou vendo que alguém sabe usar a
ênclise...
– Gracinhas à parte, vamos colocar os dentes do
ancinho em cima das marcas da porta... Está vendo? Encaixa como uma luva. É
obvio que os arranhões foram feitos com esse ancinho. Pegue a minha câmera e
tire fotos.
– Temos que mostrar isso às meninas.
– Vamos pensar em uma forma de pegar esse falso
lobisomem.
– Isso. Depois do almoço, chamaremos Alana e
Natália para irmos ao riacho. Lá, a gente faz uma reuniãozinha para encontrar
uma forma de capturar esse espertinho.
– Certo. Vou pensar em algo.
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Após o almoço, os meninos foram ver a
cachoeira, da qual nasce o riacho. Eles aproveitaram para admirar a nascente do
riacho com a bela paisagem natural enquanto se sentaram em círculo embaixo de
uma mangueira, às margens da cachoeira, para comentar o caso.
– Então, meninas... Natália e Alana, eu trouxe
a minha câmera para vocês verem essas fotos. Hoje, de manhã, enquanto vocês
estavam arrumando a casa, eu fui investigar o caso. Olhem essas marcas de
garras na porta que o empregado falou que tinha trocado! Combinam com os
espaços dos dentes do ancinho que Carla encontrou no depósito.
– Eu sempre achei que havia alguma coisa errada
com a venda do sítio. Minha mãe disse que os antigos donos não disseram por que
queriam se mudar. Até o empregado
acredita nessa história de lobisomem. Mas ele nunca se mudou daqui.
– Talvez ele não tenha para onde ir. Temos que
criar um plano para capturar seja lá quem for.
– Érique tirou fotos do lado por onde vimos o
monstro passar. Eu fui ver também, mas, infelizmente, não ficaram rastros na
grama que dessem para identificar. Não dá para saber se os rastros foram
deixados por sandálias ou sapatos.
– Também olhei, Carla, ficou na mesma. A
propósito, Natália, ontem, você falou algo sobre os pelos presos em fios de
arame, se não me engano.
– Bem lembrado, Alana, na volta, mostrarei a
vocês onde foi. Mas não estão mais lá. O vento deve ter levado.
Poucos minutos depois, ao som suave da queda
d’água, surgiram as primeiras ideias através de Carla e Érique.
– Já sei! Hoje, a noite é de lua cheia. Se ele
veio ontem, é possível que venha hoje também. Vamos nos dividir e pegá-lo de
surpresa...
– Tenho um plano! Vamos formar duplas: Eu e
Carla ficamos no meu quarto, Alana e Natália ficam no quarto de vocês. Assim,
quando ele aparecer, a gente desce vai atrás dele. A noite vai ter lua cheia e
tudo pode acontecer!
– Temos que estar preparados com algo para
amarrá-lo. Acho que vi uma corda no depósito. Se ela te chamar e quiser te
amar, você vai, Pepeu Gomes!
Ouvindo aquilo, Natália e Alana começaram a
trocar olhares indiferentes.
– Um momento! Vocês não acham isso meio
perigoso?
– E se ele tiver uma arma? Eu acho que isso não
vai dar certo.
Carla e Érique, ao perceber que as duas não
gostaram da ideia, tentaram contornar a situação.
– Meninas, deixem de ser covardes!
– Digo o mesmo que Érique. Além do mais, se ele
tivesse uma arma, já teria invadido a casa e ameaçado Júli e você, Natália.
– E o empregado também...
– Como Júli tem um sono pesado, vamos esperá-la
dormir para colocar o nosso plano em ação. Estão comigo?
Pelo tempo que Carla e Alana conhecem Érique,
sabem muito bem que não adiantaria ficar contra. Carla aceitou com facilidade,
pois também gosta de participar de confusões. Já Alana ficou meio desconfiada.
Como Natália estava em minoria, teve que concordar com o plano. Antes do pôr do
sol, voltaram para casa, para Júli não ficar preocupada com a ausência.
No caminho de volta, Érique mencionou,
rapidamente, que tinham que resolver o mistério antes voltarem para a cidade. O
ser apareceu na noite anterior, sexta-feira, e poderia aparecer mais uma vez
naquela noite de sábado, que era a única chance de capturá-lo, pois iriam
embora no domingo à tarde.
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