AS CARTAS DE NATAL
Por
Evaí Oliveira
Todos os anos, crianças do mundo inteiro mandam
cartas ao Papai Noel pedindo presentes de todos os tipos. Lá estava o Papai
Noel sentado na escrivaninha da sua fábrica de brinquedos, na Lapônia, lendo
cartas e mais cartas com seus duendes ajudantes.
Mas neste Natal, o bom velhinho recebeu
cartas de crianças brasileiras e ficou bastante emocionado com o que leu: umas
pediram cobertores e demais agasalhos e outras pediram um lar para morar, uma
família, nada de brinquedos. É claro que as crianças que moram nas ruas
desconhecem o prazer de ter um brinquedo nas mãos. Em vez de se divertirem,
essas crianças são expostas aos perigos das ruas, tendo que se virarem para
conseguir sobreviver.
Emocionado e lamentando tal situação, o
bom velhinho reuniu os duendes para solicitar ajuda para tentar resolver aquele
problema.
— Meus amigos, esse ano, vamos
visitar o Brasil e levar um pouco de alegria para as crianças abandonadas. Mas
para isso, precisaremos de ajudantes de lá.
— Isso mesmo, Noel, eu e outros
duendes podemos pesquisar projetos natalinos e entrarmos como voluntários. Daí,
levamos os brinquedos e os projetos ficam com a parte da alimentação e agasalhos,
pois a nossa fábrica só produz brinquedos.
— Ótima ideia! Ainda faltam quinze
dias para a comemoração, o que acham de selecionarmos as crianças mais comportadas
de cada estado para nos ajudar nessa tarefa?
— Toda ajuda é bem-vinda. Vamos
ver a lista de cada estado do Brasil!
Noel seguiu para o supercomputador do seu
escritório e acessou a página de estatísticas de comportamento das crianças do
mundo inteiro, pesquisou o Brasil e selecionou as capitais do país. Após
encontrar as vinte e sete crianças brasileiras mais comportadas, encarregou um
duende de imprimir uma carta e enviar para cada uma das crianças. O duende
digitou um texto relatando a ideia e solicitando a ajuda delas, colocou em
envelopes e pediu a Noel o trenó emprestado para ir entregar as cartas aos seus
destinatários.
— Claro que pode usar o meu
trenó! Só tenha cuidado para não ser visto, pois ainda faltam quinze dias para
o Natal.
— Não se preocupe com isso! Eu
deixarei o trenó em um local afastado, fico invisível e dou um jeito das
crianças receberem as cartas. Vou preparar as renas, pois já é noite no Brasil.
O duende saiu, preparou as renas para
puxarem o trenó e deixou o Círculo Polar Ártico em direção à América do Sul.
Passou pelas casas e apartamentos das crianças mais comportadas de cada estado
e realizou a entrega das cartas. Estacionando o trenó em locais escondidos dos
olhos humanos, ficou invisível e entrou em cada quarto para deixar o envelope
em um local que pudesse ser visto pelas crianças.
Em uma das casas, a criança despertou no
meio da noite, quando o duende se encontrava no quarto na forma visível.
Rapidamente, o ajudante do Papai Noel se transformou em um anão de jardim de
enfeite no canto do quarto. A criança achou estranho o anão ali no quarto e
voltou a dormir. O duende voltou à sua forma normal, deixou o envelope ao lado
da cama e saiu pela janela.
Nas outras residências, a criaturinha já
entrou invisível a fim de não ser surpreendido novamente.
Depois de concluído o serviço, o duende
retornou à fábrica de brinquedos, na Lapônia, soltou as renas, guardou o trenó
e foi falar com o chefe.
— Noel, todas cartas foram entregues.
Agora vamos aguardar o resultado.
Enquanto isso, no Brasil, as crianças que leram
as cartas foram tomadas pela euforia de serem ajudantes do Papai Noel e tentar
proporcionar um Natal mais digno às crianças abandonadas e moradoras das ruas
do país. Elas induziram seus pais a participarem dos projetos solidários das
suas cidades e seus pais aceitaram pela causa de ajudar as pessoas, mas não
acreditaram na história da carta ter sido enviada pelo Papai Noel, o que eles
pensam se tratar apenas de uma personagem popular.
Lá no Círculo Polar, o bom velhinho e seus
ajudantes continuavam a ler as cartas e providenciar os brinquedos. Em um lado
da sala, havia um computador maior que o comum em que os modelos dos brinquedos
eram selecionados e uma máquina gigante providenciava os brinquedos e os
duendes aguardavam sair pela esteira rolante para embalá-los, colocar o nome e
endereço do destinatário e colocá-los em sacos para depois levá-los ao famoso
trenó.
Enquanto isso, outros duendes colocavam em
prática outra parte dos seus planos: vinte e sete deles seguiram para o Brasil,
misturaram-se aos humanos idealizadores dos projetos sociais para induzi-los a arrecadar
apenas alimentos e agasalhos, pois ganhariam os brinquedos seriam dados pelo
Papai Noel. Se contassem a história real, os humanos não acreditaram, então os
duendes se identificaram como pessoas normais fantasiadas, até inventaram nomes
e assumiram um tamanho maior, pois seu tamanho normal é menor que um ser humano.
Para justificar, a doação dos presentes,
eles disseram ser representantes de grandes empresários do país que não queriam
ser identificados. Trabalham bastante fazendo campanhas de arrecadação,
enquanto os seus companheiros trabalhavam igualmente na produção e embalagem
dos brinquedos, na fábrica. Como os alvos principais eram as crianças moradores
de rua, os duendes que estavam no Brasil voltaram à Lapônia e se reuniram com o
Papai Noel para discutir mais uma ideia.
— Noel, lá no Brasil, nós
percebemos a boa vontade dos voluntários, mas pouca manifestação do poder
público. Eles criaram órgãos que em várias situações são negligentes, ou melhor
dizendo, desinteressados e preguiçosos. Por outro lado, eu absurdo o fato de um
bebê ser gerado e abandonado pelos pais, afinal as crianças não têm culpa da irresponsabilidade
dos pais.
— Isso mesmo. Em algumas
cidades, pudemos perceber que existem abrigos e fundações de acolhimento a
essas crianças, mas os recursos são insuficientes, mas o pessoal faz o que pode
pelas crianças. Até bebês recém-nascidos são encontrados em latas de lixo lá. É
absurdo e lamentável!
— Entendo. Não sabia que o país
tratava tão mal suas crianças, que são o futuro da nação. O fato de haver
pessoas de coração bom se solidarizando com as mazelas da sociedade brasileira
já me deixa com esperanças de que futuramente o abandono infantil será
extinto... Mas em que ponto vocês querem chegar?
— Nós podemos doar recursos para
a estruturação e criação de abrigos para essas crianças.
— Vocês estão dizendo que pretendem...
— Ir ao final do arco-íris e
trazer um pouco de ouro. Lá, eles vendem e usam o dinheiro em prol dos espaços
para abrigar as crianças.
— Ótima ideia! Amanhã vocês voltam
ao Brasil e agilização a questão dos abrigos e depois que estiver tudo certo,
vocês vão final do arco-íris buscar o ouro.
No dia seguinte, os duendes foram para o
Brasil e se reuniram com os dirigentes dos projetos para adquirir casas para
serem os abrigos e revitalizar os abrigos já existentes a fim de receberem mais
crianças. Eles disseram que o dinheiro seria doado pelos mesmos empresários que
eles representavam.
No decorrer da última semana antes do
Natal, depois das campanhas, foram arrecadados muitos alimentos e agasalhos e
os representantes dos projetos conseguiram casas para abrigar as crianças e
empresas para reformar e ampliar os lares já existentes, só faltavam os
recursos financeiros.
Os vinte e sete duendes se apresentaram
para as vinte e sete crianças selecionadas pelo Papai Noel, que tiveram praticamente
a mesma reação de estranheza ao ver aquela criatura de menos de um metro de
altura à sua frente. O duende fez um gesto com a mão e de repente um belíssimo arco-íris
se formou a partir do final do horizonte e terminou bem aos pés da criaturinha
e da criança.
O duende pediu para a criança o
acompanhar, aproximou-se do arco-íris e desapareceu. A criança tocou no feixe
de luz do fenômeno e foi levada até o seu final em um vale entre duas
montanhas. Lá, havia um pote de barro cheio de moedas de ouro, que foi colocado
em saquinhos de pano e levados de volta com os dois.
O mesmo aconteceu com todas as outras
crianças. Após o retorno, os duendes pediram para as crianças guardarem os
saquinhos de ouro para serem usados na hora certa e desapareceram.
Os voluntários dos projetos organizaram
uma festa de Natal para receber entregar as cestas, as roupas. Só faltavam os
brinquedos, que os ajudantes disseram que estavam chegando com o Papai Noel.
Na noite da véspera de Natal, aconteceram
as festividades com o acolhimento de todas as crianças moradoras de rua das cidades.
Estavam todos ansiosos porque o bom velhinho ainda não havia chegado.
Na fábrica de brinquedos, as renas já
estavam prontas para puxar o trenó carregado de presentes para o Brasil. Enquanto
os duendes da fábrica continuavam a produção de brinquedos para as crianças dos
outros países, Noel seguiu pelo céu em direção ao Brasil.
As crianças estavam dispersas pelos
ambientes da primeira casa visitada pelo Papai Noel, quando foram chamadas pelo
duende. Antes disso, ouviram o barulho de sinos e correram para a frente da
casa. Lá vinha o trenó mágico puxado pelas renas voadoras guiadas pelo Papai
Noel com um saco enorme na parte de trás.
As crianças ficaram admiradas e os adultos
pensavam se aquilo era real ou delírio coletivo e ficaram ainda mais confusos
quando o duende assumiu sua forma normal de menos de um metro de altura.
Noel cumprimentou as crianças, deu-lhes
brinquedos e falou que a partir daquele dia elas teriam um lar para morar e com
a ajuda do duende a criança escolhida, que viajou até o final do arco-íris,
entregou aos representantes do projeto um saquinho cheio de moedas de ouro,
para custear o projeto, o que os deixou ainda mais confusos, pois aquela
história de Papai Noel, duendes e pote de ouro era de mais para a mente dos
adultos acreditar. Já as crianças se enchiam de alegria em ver aqueles seres e esperança
de um futuro melhor para elas.
Antes de ir embora para o próximo lar,
Noel agradeceu aos voluntários por olharem para as crianças abandonadas e disse
para usarem as moedas de ouro da melhor forma possível em benefício deles.
Despediu-se de todos, subiu no trenó em companhia do duende e deu o comando
para as renas, que saíram puxando o veículo para a próxima parada.
No céu, passaram pela frente da lua,
tornando visível a sombra do trenó e das renas, seguidos do eco da voz do bom velhinho:
Ho Ho Ho Feliz Natal!
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