sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Chapeuzinho Diferente (fábula)


CHAPEUZINHO DIFERENTE

Evaí Oliveira

Depois de vários ataques do lobo às vovós da região, dois caçadores decidem se reunir para tomar uma atitude contra tal situação. O caçador mais velho presidiu a reunião e sugeriu jogar o jogo do lobo.
— Caro colega, o lobo sempre ataca da mesma forma: engana uma menina que desobedece a mãe e vai visitar sua avó pelo caminho da floresta. O que temos a fazer é montar uma armadilha para ele seguindo esse mesmo padrão.
— Eu gostei da ideia — disse o outro caçador que há tempos tenta capturar o lobo — e conheço a menina certa para essa missão. A danadinha é capaz de colocar até fogo na casa com o lobo dentro.
— Dessa vez, nós o pegaremos antes que ele devore a vovozinha. Na cestinha, vamos colocar umas surpresinhas para aquele lobo maldito.
O plano para capturar o tal lobo incluía retirar a vovó de casa antes da sua chegada. Com a casa vazia, ele pularia para a parte de vestir a roupa da boa senhora e esperar a menina chegar para devorá-la. Já a menina escolheu como figurino uma capa vermelha com um capuz, que lhe deu o apelido de Chapeuzinho Vermelho.

Ela pegou uma cestinha e colocou algumas cocadas, um pedaço de bolo saído do forno com aquele aroma que atrairia o lobo onde ele estivesse. Ela também colocou alguns materiais extra como um vidrinho pimenta em pó, um alicate, uma marretinha e uma escova de lavar roupa.
Depois de tudo pronto, lá se foi a menina, pela estrada da floresta. Além do aroma dos quitutes da cestinha, ela estava cantando para que o lobo ouvisse e a localizasse com mais facilidade. E foi isso o que aconteceu, pois encostado em uma árvore estava o lobo como quem não queria nada.

— Olá, linda garotinha! Para onde vai assim cantando?

           — Vou levar essa cestinha cheia de guloseimas para a minha avó que mora em uma casinha branca de varanda no meio dessa mata, às margens do riacho.

— Eu também adoraria visitar a sua vovozinha. Vamos ver quem chega primeiro?

Você segue por este caminho e eu vou por aquela outra estrada.

— Tudo bem! Vamos lá!

Como o lobo conhecia muito bem aquela floresta, pegou um atalho e chegou à casa da vovó bem antes da menina. A porta estava entreaberta, ele chamou e ninguém respondeu. Daí, entrou e percebeu que a casa estava vazia, seguiu para o quarto, vestiu os trajes da vovozinha e se deitou na cama.

Ao chegar à casa da vovozinha, Chapeuzinho encontrou a porta entreaberta.
— Vovó, a senhora está aí?
— Estou, minha querida netinha. Entre! — Disse o lobo simulando uma voz fraca e meio rouca.
A falsa vovó estava deitada na cama vestindo uma camisola e usando uma touca na cabeça na tentativa malsucedida de esconder as orelhas. Ao falar, tentava esconder o focinho puxando o cobertor para a altura dos olhos.

Chapeuzinho se aproximou do lobo com a cestinha ao braço.

— Vovó, que mãos grandes você tem! Pegou a marretinha e lhe deu uma pancada nos dedos da falsa velha.
— São para te segurar melhor, meu docinho! Ai! O que é isso?
— Oh, vovozinha, é para combater doenças nos ossos. E que olhos grandes você tem! A menina abre o vidrinho e sopra pimenta nos olhos do lobo.
— São para te enxergar melhor, minha menina! Ui, ui! Está ardendo...
— Calma, vovó! É um novo tipo de colírio em pó. Mas que orelhas compridas você tem! E puxa uma com o alicate tirado da cestinha.
— São para te ouvir melhor, anjinho! Está doendo! Solta a minha orelha!

— Vovozinha, isso é um tipo de massagem para melhorar a audição. E que boca enorme você tem!  
— É para te devorar! 
E quando o lobo mostrou os dentes, a menina pegou a escova e passou na boca do malvado com toda a sua força e saiu correndo em direção à porta de frente da casa. O lobo pulou da cama e a seguiu.
Ao passar pela porta, Chapeuzinho parou e a puxou para fechar e o lobo, que vinha correndo, chocou-se com ela e caiu tonto perdendo os sentidos.
Os caçadores que observavam tudo escondidos atrás das árvores próximas à casa, aproximaram-se da menina e encontraram o lobo caído no chão.
— É agora que eu acabo com esse lobo! — disse um caçador preparando a espingarda para atirar no animal.

— Antes disso, deixe-me pregar uma última peça nesse danado! Esses quitutes estão bem temperados com pimenta e essa garrafinha tem molho de pimenta no lugar da água. Já que ele gosta tanto de comer, vamos obrigá-lo a devorar tudo e será o fim dele!

E assim o fizeram. Quando o lobo despertou, os caçadores o obrigaram a comer as guloseimas da cesta, caso contrário levaria uns tiros de espingarda. O animal começou a devorar as comidas na maior ferocidade e quando percebeu que estava tudo apimentado, com a focinho todo ardido, destampou a garrafinha e a virou na boca de uma só vez. A situação só piorou: o lobo disparou para o riacho a fim de beber água fresca, ao tentar alcançar a água, escorregou, bateu a cabeça em uma pedra e caiu dentro do riacho sendo atacado por um cardume de piranhas. Era uma vez o lobo.