CHAPEUZINHO DIFERENTE
Evaí Oliveira
Depois de vários ataques do lobo às vovós da região, dois
caçadores decidem se reunir para tomar uma atitude contra tal situação. O
caçador mais velho presidiu a reunião e sugeriu jogar o jogo do lobo.
— Caro colega, o lobo sempre ataca da mesma forma: engana
uma menina que desobedece a mãe e vai visitar sua avó pelo caminho da floresta.
O que temos a fazer é montar uma armadilha para ele seguindo esse mesmo padrão.
— Eu gostei da ideia — disse o outro caçador que há tempos
tenta capturar o lobo — e conheço a menina certa para essa missão. A danadinha
é capaz de colocar até fogo na casa com o lobo dentro.
— Dessa vez, nós o pegaremos antes que ele devore a
vovozinha. Na cestinha, vamos colocar umas surpresinhas para aquele lobo
maldito.
O plano para capturar o tal lobo incluía retirar a vovó de
casa antes da sua chegada. Com a casa vazia, ele pularia para a parte de vestir
a roupa da boa senhora e esperar a menina chegar para devorá-la. Já a menina
escolheu como figurino uma capa vermelha com um capuz, que lhe deu o apelido de
Chapeuzinho Vermelho.
Ela pegou uma cestinha e colocou algumas cocadas, um pedaço
de bolo saído do forno com aquele aroma que atrairia o lobo onde ele estivesse.
Ela também colocou alguns materiais extra como um vidrinho pimenta em pó, um
alicate, uma marretinha e uma escova de lavar roupa.
Depois de tudo pronto, lá se foi a menina, pela estrada da
floresta. Além do aroma dos quitutes da cestinha, ela estava cantando para que
o lobo ouvisse e a localizasse com mais facilidade. E foi isso o que aconteceu,
pois encostado em uma árvore estava o lobo como quem não queria nada.
— Olá, linda garotinha!
Para onde vai assim cantando?
— Vou levar essa cestinha cheia de guloseimas para a minha
avó que mora em uma casinha branca de varanda no meio dessa mata, às margens do
riacho.
— Eu também adoraria visitar a sua vovozinha. Vamos ver quem
chega primeiro?
Você segue por este
caminho e eu vou por aquela outra estrada.
— Tudo bem! Vamos lá!
Como o lobo conhecia muito bem aquela floresta, pegou um
atalho e chegou à casa da vovó bem antes da menina. A porta estava entreaberta,
ele chamou e ninguém respondeu. Daí, entrou e percebeu que a casa estava vazia,
seguiu para o quarto, vestiu os trajes da vovozinha e se deitou na cama.
Ao chegar à casa da
vovozinha, Chapeuzinho encontrou a porta entreaberta.
— Vovó, a senhora está
aí?
— Estou, minha querida netinha. Entre! — Disse o lobo
simulando uma voz fraca e meio rouca.
A falsa vovó estava deitada na cama vestindo uma camisola e
usando uma touca na cabeça na tentativa malsucedida de esconder as orelhas. Ao
falar, tentava esconder o focinho puxando o cobertor para a altura dos olhos.
Chapeuzinho se aproximou
do lobo com a cestinha ao braço.
— Vovó, que mãos grandes você tem! Pegou a marretinha e lhe
deu uma pancada nos dedos da falsa velha.
— São para te segurar
melhor, meu docinho! Ai! O que é isso?
— Oh, vovozinha, é para combater doenças nos ossos. E que
olhos grandes você tem! A menina abre o vidrinho e sopra pimenta nos olhos do
lobo.
— São para te enxergar
melhor, minha menina! Ui, ui! Está ardendo...
— Calma, vovó! É um novo tipo de colírio em pó. Mas que
orelhas compridas você tem! E puxa uma com o alicate tirado da cestinha.
— São para te ouvir
melhor, anjinho! Está doendo! Solta a minha orelha!
— Vovozinha, isso é um tipo de massagem para melhorar a
audição. E que boca enorme você tem!
— É para te devorar!
E quando o lobo mostrou os dentes, a menina pegou a escova
e passou na boca do malvado com toda a sua força e saiu correndo em direção à
porta de frente da casa. O lobo pulou da cama e a seguiu.
Ao passar pela porta, Chapeuzinho parou e a puxou para
fechar e o lobo, que vinha correndo, chocou-se com ela e caiu tonto perdendo os
sentidos.
Os caçadores que observavam tudo escondidos atrás das
árvores próximas à casa, aproximaram-se da menina e encontraram o lobo caído no
chão.
— É agora que eu acabo com esse lobo! — disse um caçador
preparando a espingarda para atirar no animal.
— Antes disso, deixe-me pregar uma última
peça nesse danado! Esses quitutes estão bem temperados com pimenta e essa
garrafinha tem molho de pimenta no lugar da água. Já que ele gosta tanto de
comer, vamos obrigá-lo a devorar tudo e será o fim dele!
E assim o fizeram. Quando o lobo despertou, os caçadores o
obrigaram a comer as guloseimas da cesta, caso contrário levaria uns tiros de
espingarda. O animal começou a devorar as comidas na maior ferocidade e quando
percebeu que estava tudo apimentado, com a focinho todo ardido, destampou a
garrafinha e a virou na boca de uma só vez. A situação só piorou: o lobo
disparou para o riacho a fim de beber água fresca, ao tentar alcançar a água,
escorregou, bateu a cabeça em uma pedra e caiu dentro do riacho sendo atacado por
um cardume de piranhas. Era uma vez o lobo.