A
CAIXA DE PANDORA
Evaí Oliveira
evayoliveira@hotmail.com
Ao chegarem da escola, os gêmeos Estéfano e Ézio seguiram
para o quarto a fim de guardarem o material e irem almoçar. Eles têm doze anos
e moram com o pai, pois foram abandonados pela mãe logo após o nascimento e
nunca mais foram procurados por ela.
Entraram no quarto e lá
encontraram uma caixa em cima da escrivaninha, aparentemente confeccionada de
madeira revestida com couro, que tinha uns quinze centímetros de altura e
trinta de comprimento, com fecho simples de encaixe. Ela tinha vários desenhos
na parte externa de raios, coruja, pavão, serpentes, lanças, asas, tridente, chama,
trigo. Em cima dela, havia um bilhete com a seguinte ordem: “Essa caixa deve
ser guardada e não pode ser aberta em hipótese alguma.”
Curiosamente, os meninos
começaram a examinar a caixa e decidiram abri-la para ver que tinha dentro,
principalmente quando viram que era fácil ver o que havia dentro, pois o fecho
era de encaixe e eles pensaram que se fosse para não abrir, deveria haver um
cadeado na tampa.
– Vamos ver logo o que tem
dentro, Ézio! Deve ser algum presente do nosso pai. – disse Estéfano, segurando
o objeto.
– Um momento! Essas figuras
parecem ser gregas. Você se lembra da aula de História de sobre a Grécia
Antiga?
– Sim, inclusive temos um
trabalho sobre os símbolos dos deuses... Olha isso – disse, girando a caixa na
palma da mão – o tridente de Posseidon, a coruja de Atena, os raios de Zeus...
– O pavão da deusa Hera, as
serpentes de Medusa, as asas de Hermes e essa chama pode ser referente ao fogo
de Prometeu. – continuou Estéfano.
– Vamos abrir isso logo que
quero ver o que há dentro!
– Esse bilhete deve ser uma
brincadeira do nosso pai para testar a nossa curiosidade – deduziu Estéfano.
- Se for – prosseguiu Ézio –
ele tem toda razão em nos achar curiosos, pois vamos ver o que há dentro dessa
caixa agora.
Estéfano colocou a caixa de
volta em cima da mesinha, destravou a fechadura e levantou a tampa.
– Veja só! Só podia ser isso
mesmo... – e retirou da caixa um livro de capa dura intitulado Mitologia
Grega, mas sem nome de autor –.
Com o livro nas mãos, os
meninos perceberam que a caixa estava emitindo um leve brilho dourado.
– Não pode ser... O livro
também está brilhando – falou Ézio, com os olhos fixos no livro.
Estéfano o colocou em cima da
mesa e ele se abriu sozinho na página inicial do mito A Caixa de Pandora. Os
meninos olharam o título assustados e antes de se afastarem, foram sugados para
dentro do livro.
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No Monte Olimpo, Zeus estava
pensando em uma forma de se vingar de Prometeu, por ele ter descumprido suas
ordens. O titã depois de ter moldado o homem com barro e água, a mando de Zeus,
ficou sem habilidades para dar ao homem, pois seu irmão, o titã Epimeteu, deu
todas aos animais que ele estava moldando, sob as ordens de Zeus.
Prometeu decidiu dar ao homem
o fogo, mas o rei do Olimpo não permitiu, afirmando que tal elemento pertencia
apenas aos deuses. Mas o titã estava convencido e resolveu roubar o fogo do
Olimpo e deu os homens para que eles pudessem se proteger.
Depois de pensar muito, Zeus
puniu Prometeu amarrando-o em uma montanha, onde uma águia todo dia comia o
fígado do titã, que crescia durante a noite para ser comido novamente no dia
seguinte.
Além de castigar o Prometeu, o
deus dos deuses também castigou os homens por terem aceitado o fogo: criou a
primeira mulher, Pandora, que recebeu diversos dons dos deuses, como a beleza
de Afrodite, a sabedoria de Palas Atena, além de saúde, generosidade, bondade e
outros mais.
Pandora foi enviada à Terra
para ser esposa do titã Epimeteu, que já havia sido avisado por seu irmão
Prometeu para não receber presentes dos deuses. Mas ao ver a beleza da mulher,
Epimeteu quis casar com ela, contrariando o conselho do irmão.
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Éstefano e Ézio recobraram a consciência
em um lugar desconhecido, cheio de montanhas, árvores, pedras enormes. Olharam
em volta com estranhamento e curiosidade, ouviram vozes perto do local onde
estavam e seguiram e sua direção. Escondidos atrás de uma pedra, viram uma
mulher de beleza comparável à deusa Afrodite conversando com uma figura
feminina imponente, trajando um vestido branco, uma tiara dourada na cabeça,
usava também um cinto, pulseiras e colares, dourados.
Ao entrar em sua carruagem
puxada por pavões e ir embora, Éstéfano deduziu ser Hera, a deusa do casamento
e da família e esposa de Zeus, sendo assim a rainha do Olimpo.
– Hera é aquela deusa que
estava envolvida nos trabalhos de Hércules? – perguntou Ézio.
– Sim. Ela é ciumenta, costuma
se vingar das amantes do marido e também de seus filhos. Dizem que ela e Atena
vivem se estranhando no Olimpo, por isso a deusa da sabedoria ajudou Héracles,
que é filho de Zeus com uma mortal, a cumprir os trabalhos.
– Mas como viemos parar aqui?
Estamos na Grécia Antiga... Como isso é possível?
– Isso deve ter alguma coisa a
ver com aquele livro que abrimos... – pensou Estéfano.
– Ignoramos o aviso, tomados
pela curiosidade e aqui estamos, perdidos na Grécia mitológica... – refletiu
Ézio – mas já que estamos aqui, vamos aproveitar.
Voltaram a vista para a mulher
que ficou sozinha e foram ao encontro dela, ambos estranharam as vestimentas.
– Quem são vocês? Por acaso
são deuses que eu ainda não conheço? – perguntou a mulher.
– Eu sou Estéfano e esse é meu
irmão, Ézio. Não somos deuses, nem sabemos como viemos parar aqui. – respondeu
o menino.
– Quem era aquela mulher que
estava falando com você? – indagou Ézio.
– Hera, a esposa de Zeus. Ela
veio me trazer um presente a mando do marido. Veja que jarro lindo! – disse,
mostrando o jarro aos meninos – ela também me disse que eu não podia retirar
essa tampa de forma alguma. Vou guardar e esperar meu marido chegar para ver o
que ele me diz sobre isso.
– Certo, moça, agora temos que
procurar o caminho de casa. Vamos seguindo em frente, até mais. – falou Ézio,
puxando o irmão.
Caminharam por algum tempo e
ao olhar para uma um monte, perceberam um homem acorrentado e um pássaro
pousado em seu corpo, como se estivesse comendo algo.
Os meninos se entreolharam e
ficou tudo claro: eles e lembraram do mito de Prometeu e deduziram que era a
mulher que ganhou o jarro de Hera.
– Aquele lá em cima, só pode
ser o titã Prometeu. Zeus mandou Hefesto acorrentá-lo como castigo por ter
roubado o fogo da deusa Héstia. E para aumentar o sofrimento, um corvo devora o
seu fígado, que se regenera para ser devorado novamente, isso todos os dias.
– Então, aquela mulher era
Pandora, moldada por Hefesto a partir do barro, e o jarro contém todos os males
da humanidade. Temos que voltar até ela!
Os meninos retornaram ao local
onde encontraram Pandora e a deusa Hera. Durante o tempo em que passaram de ida
e volta, o titã Epimeteu esteve com sua esposa Pandora, e ordenou que o jarro
não fosse aberto, mas depois de muita insistência por parte de Pandora, o titã
tomou-lhe o jarro e o guardou. Depois que Epimeteu foi dormir, a mulher pegou o
jarro e, tomava pela curiosidade de saber o que havia dentro daquele objeto,
resolveu abrir o presente.
Nesse momento, os meninos já a
avistaram e gritaram para que ela não tirasse a tampa do jarro, mas já era
tarde. Pandora não resistiu e sua curiosidade fez com que todas as coisas
terríveis saíssem do artefato, entre elas, mentira, inveja, ganância, ira, preguiça,
dor, fome, doença, pobreza, guerra, morte. Nesse momento, Ézio e Estéfano
correram para perto do jarro ajudaram Pandora a colocar a tampa no jarro,
deixando apenas uma coisa dentro do jarro.
Após a abertura do vaso, Ézio
sentiu uma fome fora do comum, como se não houvesse comido há uma semana e
Estéfano foi tomado por uma febre de mais de quarenta graus, problemas já
causados pelos males do interior do jarro.
No fervor do acontecimento,
Epimeteu acordou e percebeu o que sua esposa tinha feito, e antes de falar
qualquer coisa, todos ouviram uma voz saindo de dentro jarro pedindo para ser
libertada. O titã percebeu a presença dos meninos e os estranhou,
questionando-os sobre quem era e sua origem. As respostas deixaram o titã
desconfiado e pensativo sobre ser alguma artimanha dos deuses.
Pandora quis abrir o jarro
novamente para ver o que havia sobrado, mas Epimeteu não deixou, inicialmente,
mas depois de falar com os meninos, permitiu tal ação.
– Se foi um presente de Zeus,
como saber se o que ficou dentro não é pior do que os males que já foram
libertados?
– Depois de todos os males que
foram soltos do jarro por Pandora, o mundo não será mais o mesmo – disse Ézio
com a mão na barriga –, mas o que sobrou é um elemento de conforto para todos
os seres atormentados pelos horrores do jarro.
O titã, então, concordou que
nada que estivesse ali dentro seria pior do que as desgraçadas que saíram dele,
então o jarro foi aberto mais uma vez e dentro dele estava a esperança, que
saiu do vaso, passou por Estéfano, curando sua febre, restaurando sua saúde,
fez a fome de Ézio passar e seguiu pelo mundo tentando desfazer os problemas
causados pelos males.
Enquanto Epimeteu falava com
Pandora, os meninos ficaram meio tontos, tudo ficou escuro e ao abrirem os
olhos, estavam de volta no quarto próximo ao livro, e recobrando a consciência.
Estéfano, fechou o livro e o colocou de volta dentro da caixa, refletindo sobre
a lição aprendida sobre as consequências das ações de Pandora, vítima da
vingança de Zeus contra Prometeu, Epimeteu e toda a humanidade, com aquela
viagem à Grécia mitológica.
Os dois aprenderam que
determinados fatos só acontecem devido à curiosidade aliada à desobediência,
que resultam em novos aprendizados, pois se eles não tivessem aberto a caixa,
não teriam embarcado na aventura pelo mundo antigo e aprendido que a
curiosidade também tem seu lado bom, pois possibilita novas vivências.
Aprenderam, também, que apesar de todas as coisas ruins que existem no mundo,
como as doenças, guerras e fome poderão ter fim algum dia, afinal, a esperança
é a última que morre.