sábado, 29 de fevereiro de 2020

Leitura Já! Auto da Compadecida (Ariano Suassuna)

SEMANA 09 – Auto da Compadecida (Ariano Suassuna)
 
Arquivo pessoal

Publicado em 1955, Auto da Compadecida é uma peça teatral que foi encenada em Recife em 1956. Escrita em forma de auto, peça curta de cunho religioso ou profano de forma simbólica, apresenta três atos.
A história se passa no sertão nordestino e possui elementos da literatura de cordel e cordel, misturando questões religiosas coma cultura popular resultando em uma grande comédia.
Além disso, o referido drama de Ariano Suassuna apresenta várias críticas à sociedade, como a traição da mulher do padeiro, a avareza dele e a covardia e mentira representadas por Chicó. Severino e o cabra têm sua história de vida parecida com a de Lampião, que entrou no cangaço depois que a polícia matou seus pais. Quanto à polícia, a peça também critica a covardia dos policiais que fugiram para o lado contrário ao da entrada dos cangaceiros.
Quanto à Igreja, a peça critica o preconceito e a ganância do padre, a venda da bênção do cachorro e enterro em latim em troca de dinheiro (simonia) do bispo além falta de humildade e arrogância.
A personagem principal, João Grilo, além de pobre é aproveitador, faz de tudo para sair no lucro, lembremos que até Diabo ele conseguiu enganar e se livra de ir para o inferno. Antes disso, enganou o padre, o frade, o bispo e o sacristão com a história do testamento do cachorro, bem como envolveu o major Antônio Morais (descendente do Conde dos Arcos, que veio para o Brasil nas caravelas).
João Grilo também tramou a morte da mulher do padeiro (acredito que isso não seja mais spoiler). Caso não se recorde, caro leitor, a bexiga de sangue que foi utilizada por Chicó para enganar Severino estava planejada para ser usada com a mulher do padeiro, pois depois que João Grilo a enganou com o gato que descomia dinheiro, imaginou que ela fosse tirar satisfação quando descobrisse a farsa. O plano de João Grilo era fazer o padeiro dar uma facada nela e depois tocar a gaita, mas Severino apareceu antes o plano foi adaptado para ser usado contra o cangaceiro.
Mas repito, a intenção do Grilo era matar a mulher do padeiro, possivelmente por causa dos três dias que ele passou doente em cima de uma cama e nem um copo de água lhe mandaram.
Uma coisa que não posso deixar passar é o fato de Manuel (Cristo) ser descrito como um “preto retinto”, contrariando a visão europeia que apresentou Cristo loiro e de olhos azuis, mesmo vivendo em uma região de muito sol, mas enfim...
Há quase sete décadas da encenação da peça, as situações de traição, ganância, mentira, e outros, são bem atuais e temos muito a agradecer a Ariano por nos presentear com uma obra desse nível de criticidade com um toque de humor para amenizar as situações apresentadas.

Enfim, é a minha indicação dessa semana.

Boa leitura!

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Leitura Já! A Terra dos Meninos Pelados (Graciliano Ramos)


SEMANA 08 – A Terra dos Meninos Pelados (Graciliano Ramos)

Imagem do Google

Publicado em 1939, essa obra infantil de Graciliano Ramos fala sobre Raimundo, um menino careca que tem um olho azul e outro preto. Tais características fazem com que os outros meninos fiquem provocando e rindo dele, que recebeu o apelido de Raimundo Pelado.
Cansado disso, Raimundo vai para uma terra fantástica chamada de Tatipirun, onde os meninos têm a cabeça pelada e um olho azul e outro preto, como ele. Nesse lugar, ele encontra uma aranha e uma laranjeira falantes e fica amigo de Caralâmpia, a princesa de Tatipirun.
A obra aborda o respeito ao próximo, o valor da amizade, de uma forma bem simples em que, para fugir da realidade, Raimundo, que sofria “perseguição” por ser diferente, acaba idealizando um mundo mágico com habitantes iguais a ele.
A obra propõe uma reflexão aos leitores através de elementos do realismo fantástico, com o plano de fundo de uma situação ainda presente no nosso cotidiano, o bullying, que atinge muitas crianças. (Isso, 81 anos após a publicação do livro.)

Penso eu que a falta do ensinamento de valores por parte da família colabora com casos como esses, sendo Raimundo o representante de todos os que sofrem bullying por parte dos colegas, vizinhos.
Na sala de aula, quando ouço um colega praticando bullying com outro, eu paro e pergunto o que ele tem a ver com a vida do colega, simples e direto, pois há valores que devem ser ensinados e cobrados em casa, e nós, professores, não temos tempo suficiente para cumprir a nossa obrigação e ainda ter que cumprir a obrigação que deveria ser e é da família.

Enfim, A Terra dos Meninos Pelados é a minha indicação dessa semana.

Boa leitura!

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Leitura Já! Fábulas (Monteiro Lobato)


SEMANA 07 – Fábulas (Monteiro Lobato)

Acervo pessoal
 

Publicado em 1922, mesmo ano em que aconteceu a Semana de Arte Moderna, o livro Fábulas reúne várias histórias de La Fontaine e Esopo, reescritas, comentadas pelos personagens do sítio e até mesmo criticadas. Na obra, dona Benta conta também algumas fábulas do próprio Lobato, como A Coruja e a Águia, A Formiga Boa, O Reformador do Mundo, A Onça Doente, O Macaco e o Gato e outras.

Ao contar as histórias, dona Benta interrompe a leitura algumas vezes para ouvir as crianças, que algumas vezes não concordam com os fatos ocorridos, como por exemplo, quando Narizinho discorda da atitude das formigas na história A Formiga Má, pois ela diz que leu em um livro que as formigas são caridosas, ao contrário da ação das formigas em deixar a cigarra morrer.

A famosa senhora Marquesa de Rabicó, por sua vez, faz a sua observação sobre a história de O Reformador do Mundo, que fala de Américo Pisca-Pisca, que achava que a natureza estava errada e pensava em reformá-la, mas mudou de ideia depois que uma jabuticaba caiu no seu nariz. A bonequinha concordou com a ideia de Américo de que a natureza produzia coisas ilógicas e afirma que um dia a reformaria, o que de fato acontece no livro A Reforma da Natureza, publicado em 1939 (que falarei exclusivamente em outra postagem).

Enfim, são muitas fábulas, muitos comentários e muitas críticas que merecem ser lidas, relidas, contadas e recontadas.

Fica aqui a minha indicação dessa semana.

Boa leitura!

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Leitura Já! A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água (Jorge Amado)


SEMANA 06 – A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água (Jorge Amado)
 
Acervo pessoal

Publicado em 1959, A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água conta a história de Joaquim Soares da Cunha, um funcionário público que, resolve deixar sua vida tranquila e sua família para se entregar à bebida.
Ele recebeu o apelido de Berro D’Água porque certo dia estava em um boteco e bebeu algo pensando ser cachaça, daí ele gritou “água” bem alto, fazendo todos que estavam em volta rirem.
Depois de sua primeira morte, sua família resolve resgatar a memória de Joaquim Soares e esquecer o passado como o farrista e desprezado Quincas Berro D’água. No meio do velório, aparecem seus companheiros de bebedeira e em determinado momento carregam o corpo pelas ruas da cidade supondo que ele estivesse vivo e lhes pregando alguma brincadeira.
Em certo momento, seus amigos usam um barco a fim de passear no mar, mas uma tempestade se forma e no balanço do barco, Quincas cai no mar, resultando na segunda morte, tendo afirmação de seus amigos que ele queria morrer no mar, contrapondo-se à família que confirma o caso relatado na primeira morte, daí a controvérsia.
Concluindo, a obra apresenta as duas fases da vida de Joaquim: respeitado funcionário, no começo, e vagabundo no final, essa última fase, causando vergonha à família, que até pensa em inventar uma história e sepultar o corpo sem avisar aos amigos.


Boa leitura!