quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Escrava Mãe e referências a outras obras

Ambientada no século XIX, a telenovela Escrava Mãe, de autoria de Gustavo Reiz e exibida pela RecordTV em 2016, é uma pré-sequência da telenovela A Escrava Isaura, da mesma emissora, exibida em 2004, ambas baseada no romance A Escrava Isaura de Bernardo Guimarães, publicado em 1875.

Além das referências à telenovela A Escrava Isaura, como a pensão em que todas as mulheres têm nomes de flores, a escrava que tem inveja da protagonista, o escravo que alimenta uma paixão não correspondida pela também protagonista, Escrava Mãe apresenta, de acordo com a minha interpretação, várias referências a outras obras literárias, como serão descritas a seguir.

Logo no início da produção, podemos perceber o romance de Teresa de Avelar e Guilherme Gomes do Amaral ao estilo Romeu e Julieta, de Shakespeare, mas sem o final trágico, pois suas famílias são rivais. Falando em Teresa de Avelar, a personagem é coxa, ou seja, possui uma deficiência na perna, o que pode nos lembrar a Eugênia, personagem do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, que também apresenta deficiência similar.

Outra obra literária que pôde ter sido referenciada em Escrava Mãe é A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, personificada em Tomás Gomes do Amaral, que é inconstante no amor, assim como Augusto do referido romance que possui as mesmas características.

 

Além da Literatura, a telenovela apresentou personagens históricos como Catarina Gama de Luccock, que era escrava e se tornou condessa ao se casar com um conde. Tal personagem pode estar relacionada a Chica da Silva, uma escrava que foi comprada por um comendador e contratador de diamantes, de acordo com registros, Chica não chegou a se casar oficialmente com o comendador, mas usufruiu do luxo da elite e conseguiu distinção social.

Filipa Gomes do Amaral, filha do coronel Quintiliano, costuma se vestir de homem e sair escondida de casa. Tal personagem lembra Maria Quitéria, uma das heroínas da guerra da Independência do Brasil na Bahia, que se vestiu se passou por homem para entrar nas Forças Armadas, tornando-se a primeira mulher a entrar no Exército. O nome da personagem também pode ser uma referência a Maria Felipa de Oliveira, também relacionada à Independência da Bahia, em que há uma narrativa tida como fato histórico que conta que Maria Felipa liderou um grupo para lutar contra os soldados portugueses, resultando em embarcações queimadas e na famosa surra de cansanção que deram nos soldados, fato que permanece no imaginário popular até hoje.

Nos capítulos finais, apareceu o Cavaleiro da Mancha, uma pessoa misteriosa que resgata os escravizados das fazendas e leva para um quilombo. Logo de início, parece ser uma referência o Dom Quixote de La Mancha, obra de Miguel de Cervantes publicada em dois volumes, em 1605 e 1615, com a diferença de que o Cavaleiro da Mancha da telenovela não é derrotado e espancado nos embates como acontece com Dom Quixote e não tem um ajudante como Sancho Pança.

Além desse, Quasímodo, um personagem do romance O Corcunda de Notre-Dame, de autoria de Victor Hugo e publicado em 1831, é coxo e corcunda, características que ocasionaram no abandono por parte dos seus pais na porta da Catedral de Notre-Dame, sendo adotado pelo arquidiácono. Na telenovela, é referenciado na figura de Belchior, um homem que ajudar uma menina a se esconder na floresta e possui características semelhantes, sendo também uma possível referência ao personagem de mesmo da telenovela A Escrava Isaura, da mesma emissora, exibida em 2004.

Enfim, como exposto acima, a telenovela conecta bem o contexto da produção com as referências literárias, tornando-se assim muito atrativa e provocando a curiosidade em ler as obras originais.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

SABOTAGEM NA EDUCAÇÃO?

Além dos problemas relativos à Educação Brasileira já existentes, a pandemia iniciada em 2020 demonstrou o total descaso do intitulado “sistema” à área em questão. Do meu ponto de vista, o maior ataque à Educação foi o fato de professores e alunos da rede pública terem ficado a ver navios desde abril de 2020 até fevereiro de 2021.

Não contentes com o abandono da rede pública, o Exame Nacional do Ensino Médio só mudou de data, mas as provas foram mantidas. Resumindo essa parte: só houve um mês de aulas em 2020 e nada mais, mas o ENEM foi mantido como se nada tivesse acontecido.

De acordo com o ex-ministro da Educação, “a prova não é feita para atender as injustiças sociais e, sim, para selecionar os melhores candidatos”. Analisando o contexto da rede pública sem aulas durante o ano de 2020, fica claro que o não cancelamento do ENEM tinha o objetivo de prejudicar estudantes da rede pública, enquanto a rede particular manteve as aulas de forma não presencial.
            Isso é justo, partindo do Ministério da Educação? Não! A ideia poderia ser reduzir (limitar) o acesso das classes mais baixas ao Ensino Superior? É sim!

Em 2020, de acordo com o INEP, houve 5,8 milhões de inscritos, mas o índice de abstenção foi de aproximadamente 50%. Metade dos inscritos não compareceu! De qual rede seriam essas abstenções? Ficou mais claro? Tem mais.

Agora em 2021, o INEP declarou 4 milhões de inscritos, sendo o menor número de inscrições desde 2007. Com uma diferença com relação ao ano de 2020: as aulas retornaram de forma remota, o que significa que esse ano, estamos no lucro, em partes.

Virando a antena para o outro lado...

Parte do alunado brasileiro colabora com a elitização do acesso ao Ensino Superior. Falta de acesso à internet não é desculpa para não estudar. Se você não tem como assistir a um vídeo e acessar sites para ler conteúdos, os livros estão aí.

Inventar desculpas para justificar a preguiça e a falta de vontade para estudar só faz com que a cada edição, as classes mais baixas sejam eliminadas do acesso ao Ensino Superior, corroborando com o projeto do “sistema”.

Então, pare de dizer que não tem tempo de estudar, que não tem internet, blá blá blá, tire 30 minutos por dia, enfie a cara nos livros e pare de se vitimizar! Estudar é chato, é cansativo. Mas jogar fora a oportunidade que você tem, acredite, é muito pior.

sábado, 9 de janeiro de 2021

AUTO DA COMPADECIDA: João Grilo, vítima ou vilão?

Texto 01: AUTO DA COMPADECIDA: João Grilo, vítima ou vilão?

Na peça de Ariano Suassuna, João Grilo começa sua rede de mentiras a fim de prejudicar o Padre, fazendo-o acreditar que o cachorro a ser benzido é do Major Antônio Moraes. Sem contar com a visita do Major, o Grilo mente para ele que o padre está doido e chama todo mundo de cachorro. Nesse caso, a mentira de João Grilo fez o padre chamar o filho do major de cachorro e a mãe de cachorra, provocando a ira do major e sua queixa ao Bispo.

Além do padre, João Grilo planejou se vingar do Padeiro e de sua Mulher, pois ele ficou doente e os patrões não deram importância, além de serem (incluindo Chicó) explorados na padaria há anos. A queixa de João grilo é que ele passou três dias em cima de uma cama tremendo de febre e os patrões não deram importância. Isso depois de seis anos trabalhando na padaria.

Para enganar a Mulher do Padeiro, João Grilo tramou com Chicó o gato que descomia dinheiro, para substituir o cachorro e ele tirar proveito da situação. O plano também incluía matar a Mulher do Padeiro com o truque da facada e da gaita que ressuscita os mortos. Ela só não foi morta porque o bando de Severino do Aracaju invadiu a cidade e João Grilo reverteu para ele o truque, com a sugestão de visitar o Padre Cícero no Céu, mais uma mentira de João Grilo.

Depois que foi morto pelo tiro dado pelo capanga como vingança pela morte de Severino, João Grilo fica diante de Cristo e do Diabo para ser julgado. Nesse julgamento, Grilo faz uma confusão tão grande que o Diabo esquece de apresentar as acusações e em certo ponto, ele diz ao Diabo que com ele era tudo na mentira.

Para se livrar de ir para o Inferno, vendo-se sem defesa, ele invoca a Compadecida que intercede por ela. Em certo ponto, ele acha que por ter sido vítima das circunstâncias, seu caso é de salvação direta. O Diabo não aceita e Cristo não tem como salvar devido ao peso dos seus pecados. Como forma de não mandá-lo nem para o Céu, nem para o Inferno, a sugestão da Compadecida de enviá-lo novamente para a vida para ter uma segunda chance é acatada por Cristo. Assim, João Grilo causou a comoção da Compadecida, enganou o Diabo e se livrou do Inferno, retornando à vida na Terra.

 

Diante dos fatos apresentados, você acha que João Grilo fez tudo isso por ser vítima das circunstâncias ou só pelo prazer de se vingar do Padre e do Padeiro e as situações fugiram do controle ocasionando a sua morte?

sábado, 2 de janeiro de 2021

JUVENTUDE DOS TEMPOS MODERNOS (crônica)

 JUVENTUDE DOS TEMPOS MODERNOS

Evaí Oliveira

Outro dia, eu estava lendo sobre a geração nem-nem, nem estuda nem trabalha. Eu incluiria mais um “nem”, nem faz nada útil. Generalizando, eu disse generalizando, boa parte, repetindo boa parte, da geração atual não sabe de onde veio nem para onde vai. Faltam perspectivas de vida e estruturação familiar. No Brasil, generalizando mais uma vez, temos uma juventude preguiçosa, folgada, fresca, chata, ignorante, sem limites, sem respeito, sem noção, sem cultura, que não gosta de nada, que não pode se frustrar, que se magoa até com o vento e vitimista.

Por outro lado, temos famílias completamente desestruturadas, o que contribui com a decadência da classe que dizem que é o futuro de uma nação. Por aqui também o vitimismo impera. O pai que cria os filhos sozinho reclama.

– A mãe só fez parir, me entregou e se mandou com outro homem: eu já disse que se ele não se comportar, eu vou entregar para ela se virar.

– Primeiro que ela não fez sozinha. Segundo que se o filho está sob sua responsabilidade, o senhor tem se impor. Não peça. Mande!

A mãe que cria os filhos sozinha também reclama.

– Eu me viro sozinha porque o pai não presta, ninguém sabe por onde anda. Eu não sei o que fazer com esse menino.

– Sabe sim, só não se coloca no seu lugar. Outra coisa, se você se deitou com qualquer um, o problema é seu. Se o filho está com você, a educação dele é por sua conta.

A avó reclama dos netos desobedientes que cria.

 – Minha filha é muito nova... Eu peguei o menino para criar.

– Meu filho engravidou a menina e como é irresponsável, eu fiquei com a bebê para cuidar.

– A senhora está reclamando de quê? Quem pariu Mateus que o balance. Pegou neto para criar, não é só dar comida, tem que dar limites também. Agora aguente!

Fora outros casos que fazem vergonha contar.

– Meu filho fica até as 2 horas da manhã no celular...

– Por acaso, o senhor manda na sua casa?

– Minha filha não lava o prato que come, para não quebrar as unhas.

– Minha senhora, que bom que ela se domina e tem uma empregada que chama de mãe.

– Eu não queria, mas coloquei meu filho na escola pela tarde, pois ele não acorda cedo. Fica até tarde da noite jogando.

– Eu fico emocionado com essas situações. Ainda bem que ele se domina, vivendo às suas custas.

- Todo dia é uma confusão para minha filha se levantar. Dorme até as 10 da manhã.

– É mesmo? Jogue água na cama, tonta!

– Meu filho não me deixa assistir nem o jornal. Assisti desenho o tempo todo. Se eu mudar canal, ele começa a chorar.

– Rapaz, isso aí é falta de limites. Mude de canal e pronto. Se ele chorar, sabe a fita adesiva...?

Muitos dos pais de hoje se esqueceram da forma como foram criados e só faltam apanhar dos filhos. O que é isso? Todo mundo quer viver em um mundo melhor. Mas o que estamos fazendo para tornar o mundo melhor?

Não importa se a mãe abandonou e foi para as profundezas, não importa se o pai deu no pé para o Diabo que o Carregue do Norte. O que importa é que se você está criando, a responsabilidade é sua! Pare de se fazer de pobre coitado(a) e assuma a responsabilidade. A gente não aguenta mais tanta lamúria, tanta desculpa esfarrapada e vitimista para justificar a péssima criação dos filhos. E o resultado está aí.

Mas graças aos deuses, ainda há famílias em que os chefes conseguem educar seus filhos como se deve e com isso garantir que nem tudo está perdido no que se refere ao futuro da nação.