O
LOBISOMEM (Evaí Oliveira)
Em uma
noite de sexta-feira, a fofoqueira-mor da cidade, dona Tânia, estava com sua
amiga e mexeriqueira assistente na casa de outra amiga. Elas já estavam até
ficando conhecidas como a Trinca da Fofoca de Mocambo. A vítima do mexerico do
momento era um homem que morava em uma casinha na saída da cidade, pois elas
descobriram, a partir de fontes duvidosas, que ele era o sétimo filho depois de
seis meninas, pois isso é quesito para que o rapaz se transforme em lobisomem.
−
Meninas, ele é muito pálido, magro...
− E
aquelas orelhas enormes, parece até o lobo da Chapeuzinho.
− Eu
acho que ele vira lobisomem. Vamos segui-lo hoje? É noite de lua cheia e é
sexta-feira − disse a fofoqueira-mor.
− Eu
também acho. Vocês se lembram daquela vez que dona Juju estava com seu bebê e
foi atacada na rua? Dizem que lobisomem adora bebês que não são batizados.
Depois disso, ela batizou o filhinho e nunca mais sentiu nem o cheiro da fera.
Elas
estavam tão eufóricas com o fato de terem mais uma fofoca para espalhar pela
cidade que nem deram atenção aos possíveis perigos. Organizaram um plano: ir
para os lados da casa do homem e espioná-lo. E lá se foi a trinca de
mexeriqueiras em direção à saída da cidade.
Ao
chegarem perto de casa, ouviram o barulho de coisas caindo no chão, elas
pararam atrás de uma caçamba de lixo. Logo ele saiu tremendo e se esbarrando em
tudo, indo em direção a uma mata ao lado da saída da cidade. Elas não o
perderam de vista até certo ponto. A lua estava enorme no céu, mas as copas das
árvores impediam a passagem da claridade em algumas áreas.
−
Gente, perdemos o lobisomem de vista. Acho melhor voltarmos.
−
Voltar nada. Vamos, ele foi por ali.
Enquanto
cochichavam, um uivo ecoou bem perto delas seguido de uma sombra passando pela
luz da lua. Elas entraram e pânico e começaram a gritar e a correr de volta
para a cidade.
Na
correria, a que ia na frente tropeçou, caiu e derrubou as outras. Levantaram-se
e continuaram a correr. Ao longe, se ouvia um uivo aterrorizante e a sombra do
lobisomem no alto de um morrinho, com a lua cheia ao fundo.
As
três mulheres chegaram de volta à cidade cobertas de lama, areia e folhas,
arranhadas pelos galhos das árvores, pareciam umas porcas. Mas se engana quem
pensa que elas aprenderam a lição, pois no outro dia, logo cedo, elas já
estavam contando o acontecido no meio da rua. Muitas pessoas não deram crédito,
visto que elas sempre têm algo a falar sobre alguém, outros pensaram que
estariam loucas.
O
homem, ao ver o povo achando absurda e mentirosa a história das fofoqueiras,
ficou mais sossegado, pois não seria alvo de perseguição de outras pessoas a
fim de comprovar se ele era realmente um lobisomem.
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