quinta-feira, 23 de abril de 2020

Caminhos do Tempo: A Viagem


CAMINHOS DO TEMPO: A VIAGEM
Por Evaí Oliveira
Depois de quase dez anos de pesquisas, finalmente Crístofer Ávila, um cientista soteropolitano Mestre em Física, de 35 anos de idade, conseguiu realizar seu sonho. Ele aproveitou o porão de seu sobrado na Praça da Piedade, centro histórico de Salvador, para desenvolver e esconder seu projeto secreto.
– Finalmente, o Projeto Tempus foi concluído! Em breve, estaremos em todos os jornais da Bahia e do restante do mundo! – exclamou Crístofer, euforicamente, ajeitando seus óculos.
– Tudo que fizemos desde 2010 valeu a pena... falou Jone, seu assistente.
Jone, um rapaz loiro de olhos azuis, tem 25 anos de idade. É especialista em Tecnologia e mora em um prédio no Campo Grande. Ele conheceu Crístofer em um evento de ciências da universidade, foi convidado e aceitou trabalhar no projeto.
– Eu quero ver a reação dos meus colegas de mestrado quando virem isso! Principalmente aqueles que acharam que eu estava louco quando falava da idealização desse projeto. Agora só precisamos de alguns voluntários para fazer o teste da máquina.
– Crístofer, não sei se você se lembra, mas você agendou a visita daqueles três alunos para amanhã pela manhã...
– Isso mesmo – interrompeu o cientista – vamos convencê-los a serem cobaias. Ótima ideia!
– Não era isso que eu tinha em mente. – respondeu Jone.
– Eles podem ficar famosos como os viajantes...
– Crístofer, eu não disse...
– Se tudo der certo – interrompeu novamente - nós também ficaremos famosos...
– Deixa para lá.
– Tomara que eles não desmarquem! Você estava dizendo alguma coisa?
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Na manhã seguinte, Élson e Sofia pegaram o ônibus no Largo das Baianas, pois moram em um prédio no bairro de Amaralina, e saltaram na Estação da Lapa que era o ponto mais perto do professor. Élson é um rapaz de 17 anos, 1,75m, moreno claro e Sofia é uma menina morena de cabelos cacheados, tem a mesma idade e é um pouco mais baixa que seu amigo.
Como se tratava de um trabalho em grupo, marcaram com Melissa, que já os esperava na Praça da Piedade. Ela é a mais nova do trio, tem 16 anos, magra, 1,75 de altura, pele clara, cabelos pretos à altura dos ombros. Ela mora no Corredor da Vitória, por ser mais perto da Piedade, chegou primeiro e ficou aguardando os colegas.
Todos reunidos, seguiram para casa do professor Crístofer, do outro lado da rua. Foram recebidos por Jone e conduzidos para o porão do sobrado, onde se encontrava o cientista e seu assistente.
Era uma sala que media vinte metros quadrados e contava com sistema de ar-condicionado. No canto esquerdo da sala, havia um tubo semitransparente de um metro e meio de diâmetro e quase dois de altura em cima de um equipamento eletrônico circular com alguns cabos à amostra. As luzes ao redor permaneciam acesas em cor azul para indicar o perfeito funcionamento do aparelho. Em cima da mesa, havia várias pastas, um computador e um notebook, ambos conectados ao sistema da Máquina do Tempo.

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Admirados com o que estavam vendo, Crístofer aproveitou o momento para fazer uma proposta tentadora aos meninos.
– Meus caros, antes da entrevista pela qual vocês vieram até aqui, eu gostaria de lhes apresentar um invento que vai revolucionar a ciência. O que vocês estão vendo nessa sala é a máquina do tempo, um projeto em que trabalho há anos.
– Realmente, se funcionar – por um momento Élson pensou que o professor estivesse maluco.
– Meu jovem, é claro que funciona. Os sistemas estão em perfeitas condições, só precisamos de voluntários para o teste.
– E o senhor pretende que essas cobaias sejam... – Sofia foi interrompida.
– Vocês três – completou Crístofer – são as pessoas perfeitas para o teste da minha máquina.
– Isso não pode ser perigoso? – questionou Melissa.
– Vejam! Para testar, eu vou programar o sistema para fazer o teletransporte para anteontem, no momento em que estava concluindo a configuração dos sistemas...
– Mas se anteontem você não tinha testado a máquina ­– interrompeu Élson – como vai acreditar que viemos do futuro?
– E o senhor nem conhecia a gente – ponderou Melissa.
– Simples! Eu escrevo uma mensagem em um papel. É só me mostrarem, que acreditarei em vocês.
– Essa viagem é segura? Não haverá efeitos colaterais causados pela exposição à energia da máquina? – questionou Sofia, a fim de se certificar.
– Vocês podem sentir náuseas. Só isso. – respondeu o cientista.
– E o que fazemos para voltar?
– Quando eu for configurar a viagem, colocarei data e hora específicas e o tempo de permanência dos viajantes. Para esse teste, colocarei 30 minutos. Por isso, peço que sejam rápidos.
– E como você sabe onde vamos aparecer? Ou não há como saber? – perguntou Melissa receosa.
– Claro que há. Vejam este mapa aqui na tela! Eu defini o navegador para vocês aparecerem lá em cima na sala. – respondeu, apontando a tela do computador.
– Essa viagem é realmente segura? – perguntou Melissa novamente.
– Claro que é! Mas os advirto de que vocês devem estar no local exato onde apareceram, para eu possa lhes trazer de volta para o presente. E vamos deixar de falatório. Aceitam embarcar nessa aventura ou não?
Os três se entreolharam, como se estivessem se comunicando por telepatia e mais por curiosidade, aceitaram a proposta, sem pensar nas possíveis consequências.
Élson e Sofia subiram os três degraus quase arrastando Melissa, que ainda estava em dúvida, e entraram no tubo. Crístofer sentou-se à mesa e concluiu a programação da viagem no tempo para dois dias atrás. Após um bipe, a porta se fechou automaticamente e uma espécie de fumaça branca começou a aparecer dentro do tubo acompanhada por feixes de luz parecidos com descargas elétricas. Do lado de fora, as luzes do painel começaram a piscar e no visor apareceu a data do teletransporte: 25 de março de 2020.
Uma voz eletrônica informou: iniciando teletransporte para vinte e cinco de março de dois mil e vinte.
Tudo parecia estar sob controle, mas enquanto a máquina preparava o teletransporte, as luzes da sala se apagaram e reacenderam rapidamente. No monitor, apareceu uma mensagem de falha no sistema. Crístofer e Jone olharam a tela e ficaram sem reação por um momento. Jone se sentou ao notebook para descobrir em que parte do sistema ocorreu a falha.
As lâmpadas começaram a piscar novamente e, em poucos segundos, algumas lâmpadas explodiram, o computador desligou sozinho e as luzes reservas acenderam automaticamente.
O notebook continuou ligado e mostrava outra mensagem: Sobrecarga do sistema!
Em seguida, começaram a sair faíscas das tomadas. Crístofer correu para a escada para se proteger das descargas elétricas que clareavam a sala. Jone subiu para desligar a chave de energia, mas antes disso, uma descarga elétrica atingiu o painel da máquina do tempo.
Com isso, a data da viagem foi modificada aleatoriamente e a voz eletrônica não avisou. O teletransporte ainda não estava concluído e as cobaias não viram o que estava acontecendo do lado de fora do tubo.
Poucos minutos depois, Jone conseguiu desligar a chave de energia e as faíscas e descargas elétricas pararam. O tubo estava vazio. Crístofer tentou religar o computador, sem sucesso, enquanto Jone acessava o sistema no notebook para localizar os meninos.
Com a ativação da máquina, o sistema utilizou uma quantidade de energia que a fiação elétrica não suportou e causou um curto-circuito nos geradores atingindo também a instalação elétrica do casarão.

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Os viajantes se materializaram por meio de um feixe de luz no meio de uma mata fechada, cheia de árvores de todos os tamanhos. As que mais chamaram a atenção dos meninos foram algumas parecidas entre si no meio das quais eles apareceram. Elas mediam uns dez metros de altura, repletas de galhos, o trono reto de uma ao lado deles apresentava uma resina avermelhada saindo de sua casca cinza.
A turma começou a olhar em volta sem saber onde estavam.
– Eu me sinto como se a terra estivesse balançando. – disse Sofia.
– Eu também. Eu sabia que isso não iria dar certo. – falou Melissa tirando o celular do bolso e percebendo que estava com a bateria descarregada.
– Todos estamos tontos. Vamos nos sentar que daqui a pouco, passa. – tentou Élson acalmar as meninas e verificando que seu celular também estava sem carga.
– Pessoal, isso aqui não parece muito com a casa de Crístofer, nem com nossa Salvador.
– Estão ouvindo esse barulho?
– Parece barulho de ondas. Vem daquela direção. Vamos lá.
– Mas antes vamos deixar para marcar esse local para a gente poder voltar para nosso tempo.
– Isso, não podemos demorar. Lembrem-se de que temos pouco tempo.
Élson quebrou uns galhos baixos da árvore e os espalhou pelo chão para facilitar a localização na volta. Sofia, pegou uma das flores que estavam nos galhos e a colocou no cabelo. Era uma flor que possuía quatro pétalas amarelas e uma vermelha menorzinha, além de exalar um aroma um pouco forte, que Sofia julgou muito interessante.
Seguiram poucos metros à frente e encontraram um rio e, mais à adiante, sua foz. Sofia ia em direção à praia, quando Élson a segurou pelo braço e as puxou para detrás de algumas árvores, pois eles não estavam sozinhos.
– Espere, Sofia! Vejam aquilo.
Eram umas embarcações grandes e outras menores, movidas a velas, com enormes cruzes desenhadas nelas. Estavam ancoradas perto da foz do rio.
– Que cruzeiros estanhos... – falou Melissa.
– Não são cruzeiros. Acho que são caravelas... – respondeu Sofia.

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No laboratório, Jone e Crístofer reiniciaram os computadores para tentar identificar a parte do programa que deu falha e para mapear a localização dos viajantes. Após a reinicialização, o sistema não identificou a localização exata dos meninos, mas exibiu a data de destino da turma.
– Crístofer, apareceu aqui o ano em que eles estão, mas deve haver outra falha no sistema. Estou quase resolvendo a questão do mapeamento.
– Deixe-me ver... Não pode ser... – voltando para o computador, viu aparecer um cronômetro marcando dez minutos e as luzes da máquina que estavam vermelhas, mudaram para azul e começaram as piscas.
– Os sistemas voltaram ao normal e o tempo deles está acabando, espero que eles tenham noção de tempo lá, caso contrário, não sei o que pode acontecer.
– Vamos manter a calma e aguardar. Eles podem estar presenciando um dos momentos marcantes do nosso país.
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            Das naus, partiram alguns barquinhos com algumas pessoas. Os meninos estavam entretidos olhando para as embarcações que não perceberam a chegada pela praia de um grupo de homens. Possivelmente, eles estivessem observando os navios e se aproximaram para verificar. Havia uns sete ou oito homens pardos, carregando arco e flecha e estavam nus, eram indígenas.
            Os meninos observaram um homem descer de um dos barquinhos. Ele vestia aparentemente muitas roupas e usava alguns colares. Os índios avançaram contra o barco que acabara de se aproximar da praia, mas abaixaram os arcos seguindo os sinais feitos com as mãos pelo homem do barco.
            – Gente, eu acho que já vi essas cenas antes...
            – Não quero atrapalhar, mas nosso tempo está acabando, é melhor voltarmos antes que eles nos vejam.
            Voltaram para o ponto de origem, onde deixaram os galhos debaixo das árvores, e ficaram analisando os acontecimentos, quando uma espécie de chuva prateada caiu sobre suas cabeças e aos poucos eles foram se desmaterializando.
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            No laboratório, as luzes da máquina começaram a piscar e uma fumaça novamente apareceu com pequenos feixes de luz. Os meninos estavam de volta ao presente e nem deram muita importância ao fato de não terem se teletransportado para o local combinado, pois não sabia da sobrecarga da máquina.
            Saíram do tubo eufóricos, todos falando ao mesmo tempo o que tinha visto na visita ao passado, só deu para entender algumas palavras como floresta, rio, praia, caravelas, índios.
– Ah! – gritou Crístofer – falem um de cada vez.
Eles pararam por uns dez segundos e começaram a falar todos ao mesmo tempo novamente. O cientista os fuzilou com os olhos e percebeu a flor no cabelo de Sofia, aproximou-se dela e a puxou do cabelo, fazendo com que parassem de falar, o que Jone agradeceu, pois estava ficando tonto.
– Vocês sabem de que árvore veio essa flor? – reconhecendo a flor de um pau-brasil que ele vê em suas caminhadas no final da tarde pelo Campo Grande.
            – Eu peguei da árvore em que aparecemos embaixo. Gostei do cheiro dela.
– Bem, agora que estão mais calmos, comecem a falar como foi a experiência da viagem no tempo – enquanto falava, acenou para Jone pegar seu caderno de anotações.
– Esperem um momento! – interrompeu Élson, apalpando os bolsos – perdi meu celular!

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